sábado, 1 de maio de 2010

Nenhuma amargura

Respirou fundo. Morangos, mangas maduras, monóxido de carbono, pólen, jasmins nas varandas dos subúrbios. O vento jogou seus cabelos ruivos sobre a cara. Sacudiu a cabeça para afastá-los e saiu andando lenta em busca de uma rua sem carros, de uma rua com árvores, uma rua em silêncio onde pudesse caminhar devagar e sozinha até em casa. Sem pensar em nada, sem nenhuma amargura, nenhuma vaga saudade, rejeição, rancor ou melancolia. Nada por dentro e por fora além daquele quase-novembro, daquele sábado, daquele vento, daquele céu azul – daquela não-dor, afinal.
Caio Fernando Abreu.

2 comentários:

  1. Belo texto. Talvez há uma solidão maior, é aquela que, diante de nós mesmos, só desejamos o caminho de casa, lento, por qualquer rua, sem nome, sem fome, sem data, um quase-nada...

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