segunda-feira, 31 de maio de 2010

De olhos fechados

Ela, ela não pode ver o homem, separada da sombra interior da casa pela cegueira da luz de verão. Não se pode dizer se os seus olhos estão entreabertos ou fechados. Parece que ela está descansando. O sol está muito forte. Ela usa um vestido claro, de seda clara, rasgado na frente, que deixa vê-la. Sob a seda o corpo estava nu. O vestido teria sido talvez de um branco esvaecido, antigo. Assim ela teria feito às vezes. Às vezes também ela teria feito muito diferente. Diferente sempre. É o que vejo dela. Ela não teria dito nada, não teria olhado nada. Diante do homem sentado no corredor escuro, encerrou-se embaixo das pálpebras. Através delas vê transparecer a luz emaranhada do céu. Sabe que ele a olha, que ele vê tudo. Sabe isso de olhos fechados, assim como o sei eu, eu que olho. Trata-se de uma certeza.
Trecho do livro O homem sentado no corredor, Marguerite Duras.

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