terça-feira, 22 de março de 2011

Inquietude

Ana estava inquieta. No fundo ela bem sabia o que era, mas envergonhava-se dos seus sentimentos. Queria pensar noutra coisa, mas não conseguia. E o pior é que sentia os bicos dos seios (só o contato com o vestido dava-lhe arrepios) e o sexo como três focos ardentes. Sabia o que aquilo significava. Desde os seus quinze anos a vida não tinha mais segredos para ela. Muitas noites quando perdia o sono, ficava pensando em como seria a sensação de ser beijada, penetrada por um homem. Sabia que esses eram pensamentos indecentes que devia evitar. Mas sabia também que eles ficariam dentro de sua cabeça e de seu corpo, para sempre escondidos e secretos, pois nada nesse mundo a faria revelar a outra pessoa – nem à mãe, nem mesmo à imagem da Virgem ou a um padre no confessionário – as coisas que sentia e desejava. [...] Pensava nas cadelas em cio e tinha nojo de si mesma.
Trecho do livro "O Continente" (Cap. Ana Terra), de Érico Veríssimo.

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