domingo, 18 de dezembro de 2011

Ervilhas

Não sentia fome, mas devia sentar-se a mesa como mandava o costume. Instintivamente fitava o prato evitando o olhar inquisitivo da mulher. O silêncio vazio do matrimonio indesejado o atormentava todavia, calmamente, espetava com o garfo as ervilhas frias levando-as aos lábios rachados. Ervilhas frias. Frias como Emília. Ela era virgem, ele era homem, era seu dever, era o costume. Maldição. Não via mais o prato, via sua vida. Afinal, nunca havia sido homem suficiente para simplesmente brincar com a comida.

Ervilhas, de Francesca Martins.

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