Há histórias que nunca deveriam ser contadas ou mesmo lembradas. Mas existem coisas que a alma não esquece e o ato de escrever tais coisas é como despir a alma. Enquanto escrevo me percebo nu, despido aos olhos do desconhecido.
Foi em uma sexta-feira louca, de álcool e fumaça branca que te vi sentada em um canto escuro do café. Te vi e mergulhei em ti, pensando que você, como desconhecida sem nome, não me traria dores. Engano.
Ainda recordo a tua imagem, moça de aura doce, taça de vinho entre as mãos, solitária de olhos tristes. Acomodei-me na cadeira e por alguns instantes viajei em especulações, até o teu olhar encontrar o meu.
Você me fitou intensamente e como um náufrago, perdido na escuridão da noite, fiz de você ilha e abrigo. Busquei desesperadamente ler a tua alma, tentando encontrar a lâmpada do teu espírito.
Nos prendemos e suspensos no tempo deixamos transbordar o desejo de completude. Minha sede era imensa, saciei-me em tua alma e te amei naquele instante. Todavia, teu coração não estava pronto.
Delicadamente, desviando o olhar do meu, você retirou do bolso do casaco uma aliança e colocou no dedo anular. Teu coração pertencia a outro. Sem me olhar nos olhos pagou a conta e se foi, deixando a taça intocada. Meu olhar ainda busca o teu.
"Solitária", de Francesca Martins.
Perfeito!!! Não conhecia o seu trabalho, mas agora que o conheço passei a admirá-la mais ainda...Eduardo Albuquerque
ResponderExcluirlindo Fran =)
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