sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sinais

Ando te encontrando
Perdida
No meio dos poemas
Que leio.
Dia desses esbarrei
no teu sorriso
de lua quarto crescente.
Vi também
Um beija flor
Quebrando o cinza
Em plena
Avenida paulista.
Outro dia
Me deixei levar
Por uma canção
e ouvi tua voz.
E senti teu cheiro
De mulher
Como chuva
Molhando o mato verde.
Isso sem contar
Na vitrine
Um vestido
de malha cinza
com alcinhas.
Ando te encontrando
Perdida
No meio dos poemas
Que escrevo.
--

Sampa
07.04.2011
"Sinais", de Marcelo Lavor.

Queda

Ah que vontade
de parar o mundo
e no instante
de um segundo
cair nos braços
de minha saudade.
"Queda", de Marcelo Lavor.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Continua, sempre

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

 Trecho do poema Consolo na Praia, de Carlos Drummond de Andrade.

sábado, 9 de abril de 2011

Sussurro [5]

Amor é sagrado. Amor verdadeiro merece altar, culto e devoto.
Francesca Martins.

Toma um café

 

Toma um café, que o mundo acabou faz tempo.
Caio Fernando Abreu.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Moça

Tuas rendas fazem que eu me renda
Tuas rendas me prendem
Me arrebatam
E me soltam

Moça do vestido de renda
De quadrilha
De flor

Me diz teu segredo
Me dá o teu beijo
Me fala de amor
Francesca Martins.

Lúcia

Não me posso agora recordar das minúcias do traje de Lúcia naquela noite. O que ainda vejo neste momento, se fecho os olhos, são as nuvens brancas e nítidas, que se frocavam graciosamente, aflando com o lento movimento de seu leque; o mesmo leque de penas que eu apanhara, e que de longe parecia uma grande borboleta rubra pairando no cálice das magnólias. O rosto suave e harmonioso, o colo e as espáduas nuas, nadavam como cisnes naquele mar de leite, que ondeava sobre formas divinas.

A expressão angélica de sua fisionomia naquele instante, a atitude modesta e quase tímida, e a singeleza das vestes níveas e transparentes, davam-lhe frescor e viço de infância, que devia influir pensamentos calmos, senão puros. Entretanto o meu olhar ávido e acerado rasgava os véus ligeiros e desnudava as formas deliciosas que ainda sentia latejar sob meus lábios. As sensações amortecidas se encarnavam de novo e pulsavam com uma veemência extraordinária. Eu sofria a atração irresistível do gozo fruído, que provoca o desejo até a consunção; e conheci que essa mulher ia se tornar uma necessidade, embora momentânea, da minha vida.
Trecho do capítulo V do livro Lucíola, de José de Alencar.

domingo, 3 de abril de 2011

Mais frágil que meu ímpeto?

Queria e quero — ainda. Voar junto com alguém, não sozinho. Mas todos me parecem tão fracos, tão assustados e incapazes de ir muito longe. Talvez eu me engane, e minhas asas sejam bem mais frágeis que meu ímpeto. Mas se forem como imagino, talvez esteja fadado à solidão.
Caio Fernando Abreu.

sábado, 2 de abril de 2011

Luz fugidía

Serpentinas, rojões, fogos de artifício
Artesão algum pôde
Moldar com tanta maestria
Feitio igual ao teu
Reluz musa
Deleito-me em ti.
"Luz Fugidía", de Pedro Xudré.